25.7.07

Deu no Blog do Mino

O ano que não quer calar

Clovis Rossi escreve hoje na Folha de S.Paulo: "Se um país é incapaz de segurar um avião na pista, vai segurar o quê?"
Sinto que o jornalista, seus parentes e seus colegas regozijaram-se com a imagem, e imaginei cento e oitenta milhões de brasileiros agarrados à cauda de um Airbus.
Ainda assim, mesmo entregue ao mais empenhado e solidário esforço para apreciar a veia literária de Clovis Rossi, receio que país algum tenha condições de segurar um avião.
O texto consta de um edificante apanhado elaborado pelo site da Carta Maior com o intuito de demonstrar a sanha golpista da mídia nativa, com o adendo da fala recente de um ministro do Superior Tribunal Militar, Olympio Pereira da Silva Junior, segundo quem, diante da conjuntura,"pessoas de bem vão se pronunciar como já fizeram em um passado não muito distante". Até um paralelepípedo percebe a referência ao golpe de 1964.
Sublinho que ontem, ao entrevistar Cassandra pelo telefone (atualmente ela mora em Corinto, deixou Tróia faz tempo), não me escapou toda a sua preocupação com a crise aérea e suas conseqüências. A filha de Priamo fareja clima de golpe, mas tendo a tomar os vaticínios de Cassandra como resultado do seu monumental mau-humor. De todo modo, o ministro do STM falava na entrega dos espadins aos alunos das academias militares, neste mês. E a estes disse que os tais cidadãos de bem, "vão se apresentar" e "aí sim, as coisas vão mudar, o sol da democracia e da Justiça brasileira vai voltar a brilhar".
Carta Maior não deixa de registrar editoriais do Globo e do Estadão, e, obviamente, a coluna de Dora Kramer. Textos que ecoam, sem surpresa para mim, páginas e pronunciamentos de quarenta e cinco, quarenta e quatro anos atrás. Aqui, no meu cantinho, resisto na crença de que os tempos mudaram. Acho que 1964, aquela tragédia, sem descurar de certos toques de comédia (o que torna o desastre ainda maior), hoje ficaria entre a farsa e a ópera bufa. Com a colaboração de scriptwriters extraordinariamente vocacionados para o gênero.
Há um caldo de cultura perigoso formando-se no ambiente político brasileiro.

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