1.10.11

Conferência recomenda que países pobres invistam na Internet

via Vermelho

Num momento em que as empresas digitais cada vez mais alimentam o crescimento econômico, os países em desenvolvimento deveriam priorizar a instalação da infraestrutura necessária para que os seus cidadãos se conectem à Internet, disseram nesta semana participantes de uma conferência no Quênia. 


O potencial da Internet para melhorar as condições de vida da população está sendo menosprezado nos países em desenvolvimento, onde apenas 21 por cento da população tem acesso à rede - bem menos que os 69 por cento no mundo desenvolvido. 

Em um estudo publicado neste ano, a consultoria McKinsey concluiu que a Internet respondia por 21 por cento do crescimento econômico nas economias maduras, e que quase 8 trilhões de dólares mudam de mãos a cada ano por meio do comércio eletrônico. 

Mas regiões como a África, carentes da infraestrutura de banda larga existente em países ricos, terão muitas dificuldades para estimular as operadoras de telecomunicações a investirem nas redes de telefonia celular que são necessárias para levar a Internet às massas — especialmente quando as massas têm pouca renda disponível para remunerar esse investimento. 

"Os países em desenvolvimento não têm como sentar e esperar, porque as atividades online estão guiando as atividades offline", disse Joe Mucheru, diretor do Google para a África Subsaariana. 

Os participantes do Fórum da Governança da Internet, patrocinado pela ONU, disseram que é preciso ampliar infraestruturas como cabos submarinos e redes sem fio para mercados onde a principal forma de conexão à Internet é por celulares. 

Um aumento na capacidade de tráfego de dados e uma maior concorrência entre as empresas permitirá que os preços caiam e que mais gente se conecte, segundo funcionários de governos e empresas presentes na conferência. 

Algumas operadoras de países ricos, enfrentando uma estagnação em seus lugares de origem, preparam grandes apostas nos países em desenvolvimento. A France Telecom, por exemplo, tenta dobrar seu faturamento no Oriente Médio e África nos próximos anos, chegando a 7 bilhões de euros (9,5 bilhões de dólares). 

Sob a marca Orange, a empresa já está presente em diversos países africanos, incluindo Egito, Tunísia, Senegal e Quênia. Um dos seus projetos atuais é instalar um cabo submarino que melhore a conectividade da África Ocidental. 

Hoje em dia, grande parte do tráfego africano da Internet é feito por satélites, com capacidade e conectividade inferior ao dos cabos - que no entanto demoram mais para serem instalados. 

Na Nigéria, a compra da capacidade por megabyte na ligação Lagos-Abuja custa 1.100 dólares - quase o dobro dos 600 dólares para a mesma capacidade na ligação Lagos-Londres. 

Fonte: Terra com reportagem adicional de Leila Abboud em Paris

Carandiru: Ato lembra 19 anos do Massacre

via Brasil de Fato
Até hoje nenhum dos envolvidos na morte dos 111 presos foi punido
Diversas organizações promoverão, no domingo (02), em São Paulo, um ato para lembrar os 19 anos do Massacre do Carandiru. A manifestação ocorrerá a partir das 15h no Parque da Juventude (onde se localizava a antiga Casa de Detenção, na zona norte da capital paulista).
O ato deste domingo também marca o início de uma agenda intensa de mobilizações que ocorrerão no próximo ano, quando se completarão duas décadas do massacre.
O massacre aconteceu em 2 de outubro de 1992. Acionada para controlar um conflito no Pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo, a Polícia Militar invadiu o local com 360 soldados, que mataram 111 detentos. O episódio é considerado um dos mais violentos casos de repressão a rebelião em presídios.
A casa de detenção foi desativada em setembro de 2002 e já chegou a ser considerada, por anos, a maior prisão da América Latina.
O ato lembrará também a falta de punições para os responsáveis pelo massacre. Dos envolvidos, o único a receber condenação foi o coronel Ubiratan Guimarães (morto em 2006), que comandou a operação policial. No entanto, a sentença que o condenava a 632 anos de prisão foi anulada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), entre 1995 e 2005 a população carcerária no país cresceu 143,91%, passando de cerca de 148 mil presos para mais de 361 mil. Já entre dezembro de 2005 e dezembro de 2009, o número de detentos aumentou de 361.402 para 473.626, o equivalente a um crescimento, em quatro anos, de 31,05%.
Já no estado de São Paulo, segundo dados oficiais do governo, diariamente, cem pessoas deixam as prisões paulistas, enquanto outras 137 são encarceradas.

Governo envia ao Congresso projeto para criar sistema contra tortura

via Rede Brasil Atual

Governo envia ao Congresso projeto para criar sistema contra tortura
Compromisso de Maria do Rosário de encaminhar sistema atende a exigência de protocolo firmado pelo Brasil em 2007 (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)
São Paulo – A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, anunciou nesta sexta-feira (30), o envio ao Congresso do projeto de lei que cria o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura.
O compromisso foi assumido na reunião de encerramento da visita ao Brasil dos inspetores do Subcomitê de Prevenção e Combate à Tortura das Nações Unidas, encontro que teve a participação da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Antes, na chegada do grupo ao país, Maria do Rosário havia manifestado a intenção de que a presidenta Dilma Rousseff avaliasse o projeto até o fim deste mês.
Trata-se do principal legado da missão da ONU, na visão dos movimentos sociais que acompanham a situação. A criação do sistema de prevenção, também conhecido como mecanismo, é vista como uma necessidade no momento para acabar com os casos de violações de direitos humanos em presídios, delegacias, unidades de internação de menores e outras instalações para a privação da liberdade. 
O teor do projeto, que será remetido ao Legislativo, ainda não é conhecido, mas a expectativa é de que se criem instrumentos para fortalecer a apuração de casos de tortura. É uma dívida antiga do Brasil, que em 2007 firmou o Protocolo Facultativo da Convenção da ONU contra a Tortura, prevendo a criação do sistema para o ano seguinte. 
Antes disso, em 2000, o relator da ONU contra a Tortura, Nigel Rodley, veio ao Brasil e emitiu um relatório no ano seguinte mostrando que a tortura era uma prática recorrente nos lugares de privação de liberdade no Brasil e uma atitude tolerada pela sociedade. O Relatório Rodley, como ficou conhecido, trabalha basicamente em torno de três temas, que ressaltam a necessidade de dar um fim à tolerância cultural brasileira perante a tortura.
Garantir a independência dos órgãos de apuração sobre estas violações, reforçar o controle externo à atuação das polícias Civil e Militar e separar os serviços que emitem laudos sobre a tortura destas corporações são três pedidos que o governo espera, enfim, poder atender com a implantação do projeto.
Segundo a ministra, o sistema vai criar uma estrutura para monitorar estas instituições em todo o território nacional. Espera-se que os estados sejam incentivados a criar mecanismos estaduais que colaborem para o trabalho federal. Até agora, apenas o Rio de Janeiro instalou um instrumento do gênero.

30.9.11

Em Londres, Lula não poupa críticas aos líderes europeus

via Correio do Brasil

Lula
Lula fala aos líderes empresariais europeus em seminário de revista conservadora
Ex-presidente da República, Luiz InácioLula da Silva não poupou críticas aos líderes europeus, na noite passada, por se manterem passivos diante da crise mundial do capitalismo, sem tomar as medidas necessárias para ajudar o bloco a superar as dificuldades. No seminário promovido pela revista conservadora britânica The Economist, nesta capital, Lula disse que “não é bom tomar decisões econômicas de olho em pesquisas eleitorais”. Era uma crítica principalmente à chanceler alemã, Angela Merkel, que tem perdido popularidade interna e resiste a aprovar medidas para ajudar países endividados da zona do Euro, como Grécia e Itália.
– Quanto custaria para a Europa ter resolvido o problema da Grécia há dois anos? E olha o que a crise lá está causando para o mundo – disse o ex-presidente.
A Grécia já acertou dois empréstimos com o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas continua com dificuldades para honrar suas dívidas, que já ultrapassam 140% do seu Produto Interno Bruto (PIB). O mercado já dá como certo um calote grego e tem exigido juros cada vez mais altos para comprar os títulos do país.
– Muitos dirigentes hoje não têm experiências com crises. Crises se resolvem com medidas políticas, não econômicas – afirmou Lula, no discurso que durou 38 minutos.
O líder brasileiro sugeriu uma saída óbvia para a estagnação econômica: o aumento do consumo mundial. Para ele, a Europa e os Estados Unidos deveriam financiar o aumento do mercado consumidor em países como China, Índia e africanos para que essas pessoas comprassem produtos do chamado Primeiro Mundo. Lula deu também uma sugestão para os Estados Unidos. Disse que, em vez de ficar dando dinheiro para salvar os bancos, o governo deveria arrumar um jeito de reduzir a dívida dos mutuários, para que eles voltassem a consumir e a movimentar a economia.
Protecionismo
Durante seu discurso, Lula afirmou que o mundo precisa agir globalmente e que não é hora de medidas protecionistas. Mas em entrevista na saída não quis criticar o Brasil, que elevou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros importados – medida que desagradou à China, país que ameaça fazer uma reclamação formal na Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo Lula, havia um desbalanço no comercio bilateral entre os dois países que precisava ser resolvido.
Presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang, também presente ao seminário da Economist, argumentou que Brasil perderá US$ 2 bilhões de investimentos por causa de medidas protecionistas.
– O Brasil está protegendo os velhos estrangeiros (montadoras americanas e europeias) e prejudicando os novos. Os velhos continuam a produzir carroças que são vendidas para o pobre povo brasileiro – afirmou Tang aos jornalistas.
Copa do Mundo
Ainda no seminário, a tramitação da Lei Geral da Copa, recebida com resistência pela Fifa por liberar a venda de meia entrada, entre outros pontos, foi apresentada como uma questão de soberania na opinião do ex-presidente Lula.
– Acho que é muito difícil que a Fifa resolva ter uma discordância de um projeto de lei aprovado de forma soberana pelo Congresso Nacional. Nenhum país do mundo vai deixar a sua soberania para atender interesse dela ou daquela entidade, seja ela qual for. Temos que assumir um compromisso com o mundo esportivo e o Brasil, que conhece futebol, e vai fazer a melhor Copa do Mundo que puder ser feita. O resto a Fifa deixa com o Brasil, que sabe fazer – afirmou.
O projeto, que ainda será votado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, cria uma legislação especial para regular, entre outros pontos, a cobrança de meia entrada nos estádios e os direitos comerciais da venda de produtos e imagens. Insatisfeita com o impacto que essa lei teria nas suas receitas, a Fifa recebeu mal o projeto.
Na quarta-feira, o ministro do Esporte, Orlando Silva, havia pedido ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), agilidade na votação. Silva pediu a instalação de uma comissão especial sobre o assunto para acelerar os trâmites do projeto, com objetivo de votá-lo na Câmara e no Senado ainda neste ano. Ele também confirmou que a presidente Dilma Rousseff deve se encontrar com representantes da Fifa em breve para tratar do assunto.
Lula chegou à capital britânica na véspera, quando fez uma palestra para investidores estrangeiros durante encontro do grupo espanhol Santander. Nesta sexta, ele participou de uma conferência promovida pela Economistsobre as possibilidades de investimento em mercados como o Brasil e a Índia. Esse foi o seu último compromisso antes de embarcar de volta para o Brasil nesta sexta, após uma semana participando de eventos nos Estados Unidos e na Europa.
O giro internacional começou na sexta passada, quando foi a Washington (EUA) também para uma palestra. Em seguida, viajou a Paris, onde, na terça, recebeu o título de doutor Honoris Causa do Instituto de Estudos Políticos (SciencesPo, na sigla em francês), o maior da França. Na quinta-feira, pela manhã, Lula esteve em Gdansk, na Polônia, onde se encontrou com Lech Walesa, ex-presidente polonês, sindicalista e prêmio Nobel da Paz, para receber um prêmio “em reconhecimento aos seus esforços para conseguir uma cooperação pacífica e a compreensão entre as nações (…) e por sua contribuição para redução da desigualdade social”, segundo nota da fundação Lech Walesa.

Golpe de Estado patrocinado pelos EUA na Guatemala vem à tona mais de meio século depois

via Correio do Brasil

EUA
O golpe patrocinado contra Gusmán, pelos EUA e a CIA, veio à tona
Pela primeira vez em 57 anos o governo da Guatemala apresentou pedido oficial de desculpas por violações de direitos humanos contra o ex-presidente Juan Jacobo Arbenz Guzman, o Soldado do Povo. Arbenz, um dos ícones da revolução de 1944, foi derrubado pela CIA em 27 de junho de 1954 sob falsas acusações de ligações com o comunismo. A fraude da CIA protegeu a United Fruit Company, de Boston e hoje Chiquita Banana, da reforma agrária de Arbenz. Além disso, grupos norte-americanos que controlavam serviços, como estradas de ferro e bondes, estavam perdendo as concessões.
O golpe, orquestrado pelo Governo Eisenhower e pelos irmãos Dulles, da CIA e que eram diretores do conselho da empresa, forçou Arbenz a ir para o exílio. Os EUA instalaram uma junta governamental que impôs terror, repressão e silêncio aos cidadãos -­ 200 mil morreram e 1milhão fugiram do país. Após muitas décadas, um Acordo Amigável de Indenização foi assinado pelo Estado em maio de 2011. Além do pedido de desculpas, o governo também concordou em revisar os livros escolares para incluir Arbenz.
A biografia dele, segundo a agência francesa de notícias France Presse(AFP) também será reescrita, a ferrovia que ele construiu levará o seu nome e um novo programa educacional será criado para treinar os servidores públicos para que sempre levem em consideração as necessidades dos agricultores e dos povos indígenas, como foi feito por Arbenz durante seu mandato.

27.9.11

Impressionantes imagens de Paramilitares Cubanos!

Fonte: LA PUPILA INSOMNE
Tradução e considerações: Robson Luiz Ceron - Blog Solidários.

Com base na mesma pessoa que anunciou assaltos e violência jamais ocorridos na igreja de Infanta Havana e Santa Marta, o site Diário de Cuba - financiado pelo governo espanhol -disse ontem  que "200 paramilitares" estavam em frente a casa, onde se reuniam as chamadas "Damas de Branco". A mesma fonte alegou que "a polícia só deixava entrar pessoas autorizadas a repudiar".

Uma vez que a La Pupila Insomne esteve no local, compartilhamos com nossos leitores estes imagens que algumas das pessoas ali presentes.

Vamos as impressionantes fotos dos paramilitares cubanos!

Jovens "paramilitares" em frente da casa da "líder" das "Damas de Branco".
Mais imagens:


Jovens Cubanos dançam na rua em frente a casa da "líder" das "Damas de branco"

Mulheres cubanas dançam em frente a casa da "líder" das "Damas de branco"


Jovens cubanos em frente da casa da "líder" das "Damas de branco"

Estudantes Universitários 


Funcionários do Escritório de Interesses dos Estados Unidos (SINA), de Havana. no dia de ontem (24/09) em frente da casa da "líder" das "Damas de Branco" (Com certeza averiguando se o dinheiro está sendo devidamente utilizado pelas mercenárias)

Esclavistas contra Lula


Por Martín Granovsky
Pueden pronunciar sians po. Es, más o menos, la fonética de sciences politiques. Con decir Sciences Po basta para aludir al encastre perfecto de dos estructuras, la Fundación Nacional de Ciencias Políticas de Francia y el Instituto de Estudios Políticos de París.
No es difícil pronunciar Sians Po. Lo difícil es entender, a esta altura del siglo XXI, cómo las ideas esclavócratas siguen permeando a gente de las elites sudamericanas.
Hoy a la tarde, Richard Descoings, director de Sciences Po, le entregará por primera vez el doctorado Honoris Causa a un latinoamericano: el ex presidente de Brasil, Luiz Inácio “Lula” da Silva. Hablará Descoings y hablará Lula, claro.
Para explicar bien su iniciativa, el director convocó a una reunión en su oficina de la calle Saint Guillaume, muy cerca de la iglesia de Saint Germain des Pres, en un contrafrente desde el que podían verse los castaños con hojas amarillentas. Meterse en la cocina siempre es interesante. Si uno pasa por París para participar como ponente de dos actividades académicas, una sobre la situación política argentina y otra sobre las relaciones entre la Argentina y Brasil, no está mal que se meta en la cocina de Sciences Po.
Le pareció lo mismo a la historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige en París el Observatorio sobre la Argentina Contemporánea, es directiva del Instituto de las Américas y fue quien tuvo la idea de organizar las dos actividades académicas sobre la Argentina y Brasil de las que también participó el economista e historiador Mario Rapoport, uno de los fundadores del Plan Fénix hace 10 años.
Naturalmente, para escuchar a Descoings habían sido citados varios colegas brasileños. El profesor Descoings quiso ser amable y didáctico. Sciences Po tiene una cátedra de Mercosur, los estudiantes brasileños acuden cada vez más a Francia, Lula no salió de la elite tradicional de Brasil, pero llegó al máximo nivel de responsabilidad y aplicó planes de alta eficiencia social.
Uno de los colegas preguntó si estaba bien premiar a quien se jacta de no haber leído nunca un libro. El profesor mantuvo su calma y lo miró asombrado. Quizá sepa que esa jactancia de Lula no consta en actas, aunque es cierto que no tiene título universitario. Tan cierto es que cuando asumió la presidencia, el 1º de enero de 2003, levantó el diploma que les dan en Brasil a los presidentes y dijo: “Lástima que mi mamá se murió. Ella siempre quiso que yo tuviera un diploma y nunca imaginó que el primero sería el de presidente de la república”. Y lloró.
“¿Por qué premian a un presidente que toleró la corrupción?”, fue la siguiente pregunta.
El profesor sonrió y dijo: “Mire, Sciences Po no es la Iglesia Católica. No entra en análisis morales, ni saca conclusiones apresuradas. Deja para el balance histórico ese asunto y otros muy importantes, como la electrificación de favelas en todo Brasil y las políticas sociales”. Y agregó, tomando Le Monde: “¿Qué país puede medir moralmente hoy a otro? Si no queremos hablar de estos días, recordemos cómo un alto funcionario de otro país debió renunciar por haber plagiado una tesis de doctorado a un estudiante”. Hablaba de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro de Defensa de Alemania hasta que se supo del plagio.
Más aún: “No excusamos, ni juzgamos. Simplemente no damos lecciones de moral a otros países”.
Otro colega preguntó si estaba bien premiar a quien una vez llamó “hermano” a Muamar Khadafi.
Con las debidas disculpas, que fueron expresadas al profesor y a los colegas, la impaciencia argentina llevó a preguntar dónde había comprado Khadafi sus armas y qué país refinaba su petróleo, además de comprarlo. El profesor debe haber agradecido que la pregunta no citara, con nombre y apellido, a Francia e Italia.
Descoings aprovechó para destacar en Lula “al hombre de acción que modificó el curso de las cosas”, y dijo que la concepción de Sciences Po no es el ser humano como “los unos o los otros” sino como “los unos y los otros”. Marcó mucho el et, “y” en francés.
Diana Quattrocchi, como latinoamericana que estudió y se doctoró en París tras salir de una cárcel de la dictadura argentina gracias a la presión de Amnistía Internacional, dijo que estaba orgullosa de que Sciences Po le diera el Honoris Causa a un presidente de la región y preguntó por los motivos geopolíticos.
“El mundo se pregunta todo”, dijo Descoings. “Y tenemos que escuchar a todos. El mundo no sabe siquiera si Europa existirá el año que viene.”
En Siences Po, Descoings introdujo estímulos para que puedan ingresar estudiantes que, se supone, corren con desventaja para aprobar el examen. Lo que se llama discriminación positiva o acción afirmativa y se parece, por ejemplo, a la obligación argentina de que un tercio de las candidaturas legislativas deban ser ocupadas por mujeres.
Otro colega brasileño preguntó, con ironía, si el Honoris Causa a Lula formaba parte de la política de acción afirmativa de Sciences Po.
Descoings lo observó con atención antes de contestar. “Las elites no son sólo escolares o sociales”, dijo. “Los que evalúan quiénes son mejores son los otros, no los que son iguales a uno. Si no, estaríamos frente a un caso de elitismo social. Lula es un tornero que llegó a la presidencia, pero según tengo entendido no dio un ingreso sino que fue votado por millones de brasileños en elecciones democráticas.”
Como Cristina Fernández de Kirchner y Dilma Rousseff en la Asamblea General de Naciones Unidas, Lula viene insistiendo en que la reforma del Fondo Monetario Internacional y del Banco Mundial está atrasada. Dice que esos organismos, así como funcionan, “no sirven para nada”. El grupo Brics (Brasil, Rusia, India, China, Sudáfrica) ofreció ayuda a Europa. China sola tiene el nivel de reservas más alto del mundo. En un artículo publicado en El País, de Madrid, los ex primeros ministros Felipe González y Gordon Brown pidieron mayor autonomía para el FMI. Quieren que sea el auditor independiente de los países del G-20, que integran los más ricos y también, por Sudamérica, la Argentina y Brasil. O sea, quieren lo contrario de lo que piensan los Brics.
En medio de esa discusión llegará Lula a Francia. Conviene hacerle saber que, antes de recibir el doctorado Honoris Causa de Sciences Po, debe pedir disculpas a los elitistas de su país. Un obrero metalúrgico no puede ser presidente. Si por alguna casualidad llegó a Planalto, ahora debería guardar recato. En Brasil, la casa grande de las haciendas estaba reservada a los propietarios de tierras y esclavos. Así que Lula, ahora, silencio por favor. Los de la casa grande se enojan.

Discurso do dia II - Discurso de Salvador Allende para os estudantes da Universidade do Mexico

Discurso do dia I - Lenin:"Cómo salvar para siempre a los obreros del yugo de los capitalistas"

Golbery: jornalista critica silêncio da imprensa, do PMDB e do Congresso

via SUL 21

Golbery do Couto e Silva
Luiz Cláudio Cunha
Especial para o Sul21
Me sinto extremamente ofendido, com o artigo do Sr. Luiz Cláudio Cunha. Em parte pela infantilidade que entorta os fatos rumo ao que se deseja, ou seja: Demagogia. Em parte pela covardia de ofender o caráter de quem já não pode mais defender-se. Obrigado.(Golbery do Couto e Silva Neto, por e-mail)
O sr. Golbery Neto, compreensivelmente, não gostou do que foi publicado no Sul21 sobre o avô. Gastou quatro linhas e 44 palavras, sem nenhum argumento, para tentar desqualificar um texto de 221 linhas e 2.552 palavras calcado em fatos e na ficha do general gaúcho, inventor do golpe de 1964 e prestes a ser homenageado com um monumento em sua terra natal, Rio Grande.
Quase nada se sabe do neto, que diz residir no Rio de Janeiro e se identifica profissionalmente como ‘internacionalista’, seja lá o que isso possa significar. Mas muito se sabe do avô, que, aliás, sabia muito mais. Sabia quase tudo sobre todos nós, como criador e chefe primeirodo SNI, o Serviço Nacional de Informações que bisbilhotava a vida dos brasileiros em geral, edos opositores em particular. A vida pregressa de Golbery ganhou súbita atualidade em agosto passado, com a desastrada ideia dos vereadores e do prefeito de Rio Grande de homenagear o general no mês do centenário de seu nascimento, cravando um monumento na praça central da cidade.
A oferenda sangrou como uma estaca na memória dos brasileiros, especialmente dos gaúchos, que justamente nesse agosto festejavam o cinquentenário da Campanha da Legalidade – movimento popular de 1961 liderado pelo governador Leonel Brizola em defesa da posse de João Goulart na presidência, vaga com a renúncia inesperada de Jânio Quadros. A transição constitucional foi vetada pelos três ministros militares que leram um manifesto golpista redigido, ironicamente, pelo então coronel Golbery do Couto e Silva. Essa brutal contradição entre as poucas benfeitorias municipais e as muitas malfeitorias nacionais do general teve baixa repercussão na imprensa — com exceção de alguns blogs e opiniões isoladas, contra ou a favor — e nenhum eco entre os políticos brasileiros, desconectados com a coerência histórica e descomprometidos com a memoria nacional.
O jovem prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, de 39 anos, nem justificou a homenagem intempestiva: “Não vou fazer juízo da ditadura militar. Eu nem era nascido…”. O neto do general, talvez ainda mais jovem, também evita qualquer consideração sobre a obra política do avô, sob o infantil argumento de que seria “covarde” avaliar a biografia dos mortos. Sob este prisma obtuso, prefeito e neto se eximem, portanto, de julgar episódios como a escravidão e o nazismo ou de opinar sobre personalidades já finadas como Hitler, Stálin, Pinochet ou Médici.
Imprensa complacente
Esta omissão deliberada não contaminou os cidadãos mais conscientes, de Rio Grande ou não. Uma pesquisa on-line do jornal local, o Agora, mostrou que mais da metade (58,5%) da população discorda do monumento. Um abaixo-assinado na internet registra mais de 1.600 assinaturas de todo o país condenando a homenagem. Indignados, movimentos de sindicatos, estudantes e populares de Rio Grande formaram uma Comissão ‘Ditadura Nunca Mais’ e, na semana passada, entregaram às autoridades locais dois livros do jornalista Elio Gaspari – A Ditadura Escancarada foi ofertada ao prefeito sem juízo e A Ditadura Derrotada foi agraciada aos vereadores sem tino. Nas duas obras, parte de uma magistral tetralogia de 2002 — portanto escrita quando o general, morto em 1987, já não podia mais se defender, para desencanto do neto — o feiticeiro Golbery refulge merecidamente como personagem central, dividindo a cena com o sacerdote Ernesto Geisel.
A mesma imprensa complacente de hoje com o passado tenebroso do general lembra muito a imprensa conivente de ontem com o general golpista de sempre. Golbery carrega na sua ficha a proeza de ter derrubado Jango duas vezes do poder. A primeira, em 1954, quando redigiu o manifesto de 82 coronéis e tenentes-coronéis que levou à demissão de João Goulart, então ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, criticado pelos militares pelo aumento de 100% do salário mínimo. A segunda, dez anos mais tarde, quando depôs Jango da presidência da República no golpe vitorioso de 1964, resultado final de uma científica, pensada e cara conspiração civil-militar que juntou o grande empresariado nacional e multinacional com a direita dos quartéis sob a fachada do dissimulado IPES, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais. O coordenador do IPES, que deu em 64 o troco no golpe frustrado em 61 pela brava resistência dos seus conterrâneos gaúchos, era o incorrigível Golbery.
Seria útil que o jovem neto de Golbery aprendesse sobre os fatos da tortuosa carreira do avô lendo um livro, pelo menos um livro, o clássico 1964: a conquista do Estado – ação política, poder e golpe de classe (ed. Vozes, 1981), do professor uruguaio René Armand Dreifuss. Ali, em 814 páginas irrespondíveis, Dreifuss desentorta os fatos para revelar ao neto distraído, com documentos do próprio IPES, a lenta, gradual e segura conspirata do vovô Golbery para derrocar um governo democrático e botar no seu lugar uma ditadura de 21 anos sob o rodízio de cinco generais-presidentes — três deles (Castelo Branco, Geisel e Figueiredo) tendo o próprio Golbery como inquilino e feiticeiro-mor no Palácio do Planalto.
rio grande golbery
Homenagem a Golbery em Rio Grande| Foto: Fernanda Miki/Prefeitura de Rio Grande
O IPES nasceu em novembro de 1961, três meses após a vitória popular da Legalidade — quando nem o prefeito de Rio Grande, nem o neto do general, haviam nascido.  Parecia um inocente clube de homens de negócios. Entretanto, na sua face oculta, sob siglas e codinomes, o IPES concentrava a execução metódica de um pensado plano da burguesia nacional para combater de forma clandestina os seus três principais inimigos: o Governo Jango, a aliança nacionalista do PTB e o comunismo, que aparentemente resumia tudo aquilo. O braço político ostensivo do IPES de Golbery era o IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática, que apesar do nome tinha ligações com o MAC, Movimento Anticomunista, e com a organização da direita católica Opus Dei. O fundador do IBAD em 1959 foi o integralista Ivan Hasslocher, dono da Promotion, uma agência de publicidade que promovia o lobby do IBAD e seu braço parlamentar, a ADP – Ação Democrática Popular, um núcleo conservador de 160 parlamentares da centro-direita no Congresso reunido em torno da UDN, PSD e PSP. Segundo Dreifuss, a ADP tinha sua ação política patrocinada pela estação no Rio de Janeiro da CIA, a agência de inteligência americana focada em campanhas políticas e grupos de pressão.
Assalto sincronizado
Homens da mesma linha de pensamento e com igual propósito juntaram, a partir de 1962, as duas entidades: nascia o complexo IPES/IBAD, matriz ideológica e operacional da conspiração que daria o golpe e, depois, forneceria os quadros e dirigentes do aparato estatal que sustentou o regime militar. O IPES operava como centro estratégico, e o IBAD, como uma unidade tática. O monstro crescia junto com a conspiração. Em 1963, os 80 membros originais do IPES pularam para 500. Eram sócios 26 dos 36 líderes da FIESP, a maior federação industrial do país. A entidade se espalhava pelas capitais do país.
A articulação dos empresários com os militares era feita pelo Grupo de Levantamento da Conjuntura (GLC) do IPES, comandado pelo general Golbery, que atuava sobre o I (Rio) e III (Porto Alegre) Exércitos. A ‘ordem de serviço com calendário’ do GLC, que definia a estratégia de ação, tinha uma edição limitada de 12 exemplares, que não eram registrados nas atas do IPES. A equipe de Golbery distribuía nos quartéis uma circular bimestral mimeografada, sem citação da fonte, avaliando a atividade “comunista” no país, apontando o dedo para subversivos infiltrados no governo e mapeando suas ações. Só no Rio de Janeiro o clandestino GLC de Golbery tinha três mil telefones ilegalmente grampeados. O grupo dirigente do general ocupava quatro das 13 salas que o IPES havia alugado no 27° andar do Ed. Avenida Central, na av. Rio Branco, então o prédio mais moderno no centro da cidade. A conta do telefone era faturada em nome do general da reserva Henrique Geisel, irmão de Ernesto, futuro sacerdote no Planalto.
O GLC do vovô Golbery escrutinava a produção diária da imprensa do país, um total de 14 mil edições no ano, e produzia mensalmente cerca de 500 artigos, disseminados pelos jornais ou divulgados em forma de palestras. O Grupo de Atuação Parlamentar (GAP) do IPES tinha vergonha do que fazia. Proibia qualquer menção à sigla, que era camuflada como ‘Escritório de Brasília’. Ele coordenava a campanha anti-Jango na capital, mas quem aparecia publicamente era o IBAD e o fazendeiro baiano João Mendes, deputado udenista e líder ostensivo da Ação Democrática Parlamentar. O plano era simples e mortal: o IPES de Golbery, através do IBAD e da ADP, emparedava o governo no Congresso, criando um beco sem saída parlamentar e um ponto morto do Executivo. A inércia legislativa levaria ao clamor popular pelo poder ‘moderador’ das Forças Armadas, única instituição capaz de tirar o país daquele atoleiro fabricado pela conspiração urdida pelo general no Parlamento.
Neste trabalho era fundamental manipular a expressão da sociedade. Na dura expressão de René Dreifuss, “o IPES conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública” pela relação especial com os principais veículos da mídia nacional.O objetivo central do Grupo de Opinião Pública (GOP) do IPES era disseminar seus objetivos na imprensa falada e escrita. Dissimulado, o grupo evitava o nome ‘opinião pública’, preferindo as expressões ‘divulgação’ e ‘promoção’. José Luís Moreira de Souza, dono da Denison Propaganda, dizia que “conquistar a opinião pública” era a essência da ação política do grupo. O principal articulador do GOP era um ex-comissário de polícia, José Fonseca, que começou na vida como ‘tira’ no 16° Distrito Policial de São Cristóvão, um subúrbio operário da zona norte do Rio, no réveillon de 1952.
Conspiração sem twitter
Em 1958, trocou a delegacia por um cargo de relações públicas da Light, a empresa americana de energia que se tornaria uma das líderes do IPES e da conspiração. Em 1963, um ano antes do golpe, o ex-comissário José Rubem Fonseca deu aos 38 anos seu primeiro tiro certeiro na literatura: lançou o livro de contos Os prisioneiros com o nome literário de Rubem Fonseca. O festejado autor de Feliz Ano NovoA grande arte e Bufo &Spallanzani tornou-se nas décadas seguintes o maior contista vivo do país, ganhador em 2003 do Prêmio Camões, uma espécie de Nobel para escritores da língua portuguesa.
Outros destaques do GOP no Rio eram os jornalistas Glauco Carneiro e Wilson Figueiredo, este do corpo editorial do Jornal do Brasil. Em São Paulo, o GOP atuava com Geraldo Alonso, dono da Norton Propaganda, e nomes ilustres de O Estado de S. Paulo, como Ênio Pesce e Flávio Galvão. Contava ainda com Jorge Sampaio e Alves de Castro, os dois nomes centrais do Repórter Essoda TV Tupi, o equivalente ao Jornal Nacionalda Rede Globo de hoje, patrocinado pela Esso do Brasil, membro importante do IPES do vovô Golbery.
Em tempos sem e-mail ou twitter, o GOP se valia da tecnologia da época: enviava milhares de cartas e telegramas e fazia chamadas telefônicas, antecipando em décadas o odiado telemarketing. Em novembro de 1962 chegava a três mil nomes a lista de organizações de rádio e TV mobilizada pelo GOP. Aliado a ele funcionava o GPE, Grupo de Publicações/Editorial, que disseminava material impresso pelo país. Esta campanha de guerra psicológica era tarefa do ex-comissário e contista Rubem Fonseca, que incluía intelectuais respeitados como Augusto Frederico Schmidt, Odylo Costa Filho e Rachel de Queiroz, prima do general Castelo Branco, líder do golpe que derrubou Jango. Rachel foi presa no golpe do Estado Novo, em 1937, acusada de subversiva, e teve seus livros queimados. Um quarto de século depois, a comunista de Fortaleza era uma intelectual engajada na equipe de propaganda de direita de Rubem Fonseca no IPES. O primo Castelo Branco, já ex-presidente, morreu num acidente aéreo em 1967 quando retornava de um passeio à fazenda da prima Rachel.
Os propagandistas do GOP atuavam em três frentes: artigos para jornais e revistas, panfletos para circular entre estudantes, militares e operários, e livros que comparavam a democracia com a empresa privada. Em comum, eram todos anticomunistas, antitrabalhistas e antinacionalistas — a tríade que embalava o cérebro do vovô Golbery. Nomes fortes do mercado editorial, como Saraiva, Cia. Editora Nacional e GRD Editora, colaboravam na publicação da chamada “literatura democrática”.
Balcão de deputados
A escolha dos candidatos agraciados com o apoio financeiro pelo IPES de Golbery obedecia a uma regra rígida, quase um contrato de compra e venda. Quem se habilitava a integrar a lista de “democratas convictos e anticomunistas de primeira ordem” passava pelo crivo dos analistas do complexo IPES/IBAD. Mais importante do que a filiação partidária era a orientação das ideias. Cada candidato era compelido a assinar um “ato de compromisso ideológico”, pelo qual prometiam lealdade ao IBAD acima da fidelidade ao seu partido, prometendo ainda lutar contra o comunismo e a defender o investimento estrangeiro.
Mas a mercadoria custava caro. O chefe do GAP (Grupo de Ação Parlamentar) do IPES, o banqueiro Jorge Oscar de Mello Flores, avaliava os candidatos pelo coeficiente eleitoral. De início, ele calculava que cada deputado “custaria” cerca de 6 milhões de cruzeiros (cotação atual: R$ 317 mil), mas percebeu que esta seria a conta de nomes da Paraíba e outros Estados menores. O preço aumentava no Ceará e ainda mais na Bahia. Os candidatos de Rio e São Paulo eram mais caros, explicou Mello Flores, avaliando a conta per capita dos deputados no balcão do IPES do vovô Golbery: 15 milhões de cruzeiros (cotação atual: R$ 792 mil).
O orçamento de um candidato pouco conhecido e de limitada agressividade eleitoral incluía despesas com equipamento de som, 40 mil cartazes, 600 faixas, fotografias, espaço em jornais, mensagens no rádio e TV, discos de jingle, gasolina, correspondência e pessoal de apoio… Tudo isso ao custo de uns 10 milhões de cruzeiros, o que não era pouca coisa. Dez milhões, que hoje valem R$ 528 mil, equivaliam então à renda diária de 20 mil trabalhadores de salário mínimo, número de votos atualmente suficientes para eleger vereador em capital.
O IPES de Golbery recebeu apoio financeiro de 297 corporações americanas. Passavam o chapéu entre empresas britânicas, suecas, alemãs. A Fundação Konrad Adenauer, órgão do Partido Democrata Cristão alemão, canalizava recursos pelo sólido complexo siderúrgico Mannesmann e pela gigante Mercedes Benz. O neto certamente não sabia, mas o vovô Golbery encarregou-se pessoalmente do contato com o presidente da Mercedes.
Grampo na Casa Branca
Os amigos do general estavam ativos, também, em Washington. Na segunda-feira, 30 de julho de 1962, o presidente John Kennedy entrou no Salão Oval e ligou pela primeira vez seu novo brinquedinho, instalado no fim de semana: o sistema secreto de gravação de voz da Casa Branca. A estreia prometia: era uma conversa cabeluda de Kennedy com o seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, parceiro de Golbery no caminho para o golpe militar que derrubaria João Goulart dois anos depois. Começava pelo gasto não contabilizado de US$ 8 milhões nas eleições de 1962, adubando secretamente candidatos apoiados pela CIA e simpáticos aos EUA. A conexão americana do mundo político brasileiro com os militares golpistas era feita por outro amigo do peito de Golbery — o discreto adido militar da embaixada, coronel Vernon Walters, que chegaria a vice-diretor da CIA no auge do Caso Watergate que derrubou Nixon, em 1974.
A transcrição das fitas foi revelada no livro do jornalista americano Tim Weiner, Legado de Cinzas – Uma história da CIA (Ed.Record, 2008), outra leitura instrutiva que poderia iluminar a cabeça de Golbery Neto. Ela mostra, numa frase de Gordon para Kennedy, que o alvo central da conspiração era o mesmo de Golbery — o próprio Jango:
— Para expulsá-lo, se necessário – disse o embaixador, esclarecendo— O posto da CIA no Brasil deixará claro, discretamente, que não somos necessariamente hostis a qualquer tipo de ação militar, em absoluto, se ficar claro que o motivo da ação militar é…
—…contra a esquerda – completou o presidente Kennedy, dando o sinal verde para o golpe que aconteceria vinte meses depois.
Na véspera da eleição de 1962, a Promotion de Ivan Hasslocher, líder do IBAD, arrendou o jornal carioca A Noite por 90 dias, ao custo mensal de 2 milhões de cruzeiros (cerca de R$ 100 mil no câmbio atual) para propaganda direta. A revista Repórter Sindical também era operada pela entidade. O órgão oficial do IBAD, Ação Democrática, circulava mensalmente com 250 mil exemplares e textos de gente graúda como o economista Eugênio Gudin e o líder udenista Aliomar Baleeiro. Era gratuita e, ainda assim, não tinha um único anúncio. No início de 1963, um manifesto de 500 profissionais de prestígio, organizados pelo Centro Democrático de Engenheiros, ligado ao IPES, foi publicado no Jornal do Brasil e em O Estado de S.Paulo.
Manifestos variados, todos “democráticos”, proliferavam na imprensa e eram retransmitidos pela dupla IPES/IBAD. Eles tinham uma agência de notícias, a Planalto, que redistribuía o material a 800 emissoras de rádio e jornais do país. Tudo gratuito, tudo pela pátria, tudo pela “democracia”.Um milhão de cópias da Cartilha para o Progresso, feita pelo IPES, exaltando os benefícios da Aliança para o Progresso do governo americano, foi encartada como suplemento da Fatos&Fotos, revista na época de grande circulação da Editora Bloch.
O extremista do Estadão
Num país de elevado analfabetismo, o esperto vovô Golbery percebeu a importância do rádio e da nascente televisão. O IPES gastou 10 milhões de cruzeiros para produzir 15 programas de TV para três canais diferentes. Eram entrevistas de questionários preparados pela entidade, com jornalistas de confiança e gente selecionada para responder sobre reforma agrária, custo de vida, democracia. Estavam escalados nesse time alguns ilustres conterrâneos de Golbery, como o senador Mem de Sá(presenteado com a cadeira de ministro da Justiça no Governo Castelo Branco), os deputados Daniel Faraco, Egydio Michaelsen e Raul Pilla, o prefeito de Porto Alegre Loureiro da Silva e o arcebispo dom Vicente Scherer. Em 1962, o IBAD operava diariamente mais de 300 programas de rádio no horário nobre das principais cidades do país. A rede de mais de 100 estações ligadas a ele formava a ‘Cadeia da Democracia’, sob o comando do senador João Calmon, dos Diários Associados, que tinha o cuidado de ir ao ar no mesmo horário das transmissões do líder trabalhista Leonel Brizola, que derrotara Golbery um ano antes com a ‘Cadeia da Legalidade’.
O maior produtor de filmes comerciais do país, Jean Manzon, foi contratado por Golbery para produzir filmes como ‘Que é a democracia’, ‘Deixem o estudante estudar’, ‘Uma economia estrangulada’, ‘Criando homens livres’. Eram filmetes de 10 minutos, projetados antes do vibrante faroeste exibido nas matinês do interior do país, onde se espalhavam três mil salas de cinema. Quando a plateia não aparecia, o cinema ia até o público. O IPES montou o projeto do ‘cinema ambulante’ em caminhões abertos e ônibus com chassis especiais, que percorriam favelas, bairros populares e cidades distantes. Era um mutirão democrático: a Mesbla fornecia os projetores, a Mercedes Benz emprestava os caminhões e a CAIO montava a carroceria dos ônibus.
Na medida em que avançava a conspiração, crescia a presença militar sobre a base parlamentar. Era hora de sair do discurso para a prática. O IBAD cede seu lugar de destaque para outra sigla – a ESG, a Escola Superior de Guerra, de onde provinham Golbery e o núcleo fardado do golpe. O novo complexo IPES/ESG alinhava 330 oficiais, de majores a generais de Exército, fazendo a ligação do mundo empresarial com os quartéis. Sempre sob a liderança do vovô Golbery, lá estavam nomes que, mais tarde, fariam parte do poder revolucionário, como ministros ou até presidentes. Orlando Geisel, Mário Andreazza e Walter Pires formulavam planos com Castello Branco, Ernesto Geisel e João Figueiredo.
Um grupo que Dreifuss nomeia como ‘Extremistas de Direita’ juntava fanáticos anticomunistas com adeptos da modernização industrial conservadora. Curiosamente, o grupo era mais ligado ao jornalista Júlio de Mesquita Neto, expoente da ‘linha dura’ paulista que pregava uma forte mensagem anticorrupção e contra a esquerda. Com Mesquita estavam seu irmão Ruy e os deputados Abreu Sodré e Paulo Egydio Martins, mais tarde governadores indiretos de São Paulo indicados pelos quartéis.
Os três ministros militares que Golbery transformou em locutores de seu manifesto no golpe frustrado de 1961 – o marechal Odylio Denys, o almirante Sílvio Heck e o brigadeiro Grun Moss –, mandaram emissários da conspiração a São Paulo para um encontro, no início de 1962, com Júlio Mesquita Filho, a quem entregaram um documento sobre as normas que iriam orientar o governo militar após a queda de Jango. O grupo, integrado pelos generais Cordeiro de Farias e Orlando Geisel, foi mais explícito com o dono do Estadão: o regime discricionário teria de ficar no poder por pelo menos cinco anos. Animado com a conversa, Mesquita chegou ao ponto de sugerir oito nomes para o futuro ministério revolucionário. Com o jurista Vicente Rao, advogado da mineradora americana Hanna, Mesquita chegou a fazer o rascunho de um Ato Institucional para fechar Senado, Câmara e Assembleias e cassar mandatos – o mesmo instrumento de força que a ditadura anos depois faria seu jornal engolir com o AI-5, na forma de versos e receita de bolo.
Tortura no mar
No Rio Grande do Sul, quartel-general do III Exército, a maior concentração de tropa terrestre do país e foco principal da resistência de Brizola na Campanha da Legalidade, dois terços da oficialidade já estavam engajados na rebelião. O coronel da Brigada Militar Peracchi Barcelos (PSD), eleito deputado pela máquina do IPES do general Golbery, tratava de sublevar a força pública do Estado.
O general Armando Cattani — que comandou no período 1958/59 a poderosa 6ª Divisão de Exército em Porto Alegre exatamente quando Brizola deixava a prefeitura da capital gaúcha para assumir o governo do Estado — organizava grandes fazendeiros no interior do Rio Grande do Sul em unidades paramilitares que seriam acionadas na hora precisa do golpe.
O general Cattani era tão amigo do general Golbery que foi selecionado por ele para assumir como interventor a prefeitura de sua terra natal, Rio Grande. O posto ficou vago de repente graças à quartelada de março de 64, que transformou a cidade portuária em ‘área de segurança nacional’ e cassou o mandato do prefeito do PTB, Farydo Salomão, no cargo havia apenas três meses. Não é a juventude, mas a alienação, que pode explicar o desconhecimento que o atual prefeito de Rio Grande e o neto do general têm sobre as violências praticadas pela ditadura de Golbery e seus comparsas nos primeiros dias do golpe exatamente na cidade onde ele nasceu.
Golbery, evidentemente, não tem nenhum envolvimento pessoal com as truculências na sua terra. Mas o general tem tudo a ver com o regime de força que permitiu esses abusos. Como porto e área estratégica no extremo sul do país, Rio Grande coordenava a repressão ali pela SOPS/RG, a Seção de Ordem Política e Social que unia forças do 6º Grupamento de Artilharia de Campanha (GAC) do Exército, o Batalhão de Polícia Motorizada, a Polícia Federal e a Polícia Civil, que cobriam seis municípios da região, de Pelotas a Chuí.
A SOPS era subordinada ao DOPS de Porto Alegre, onde brilhava o nome mais importante do aparato repressivo gaúcho, o delegado Pedro Seelig. Foi pelo Chuí que ele devolveu à ditadura uruguaia os ativistas Lilian Celiberti e Universindo Diaz, sequestrados em Porto Alegre em novembro de 1978 por um comando binacional da ‘Operação Condor’, integrado por agentes de Seelig e militares enviados por Montevidéu. A SOPS de Rio Grande e o DOPS de Seelig eram todos membros fraternais da “comunidade de informações”, gerenciada desde Brasília pelo SNI criado pelo grande-irmão Golbery.
O neto ainda não deve saber, mas as brutalidades do regime não poupavam nem os conterrâneos do avô. Um bom exemplo foi relatado por Leandro Braz da Costa, mestrando em História da UFRGS, a universidade federal gaúcha, num trabalho sobre repressão publicado este ano na ‘Jornada de Estudos sobre Ditadura e Direitos Humanos’, do Arquivo Público do Rio Grande do Sul. O historiador ouviu em 2009 um inspetor lotado em Rio Grande, na década de 70, na 7ª Delegacia Regional da Polícia Civil, dotada de celas especiais com pau-de-arara e choque elétrico para a prática de torturas. A sofreguidão por informações do preso excitava a criatividade, como revela o inspetor:
[...] quando o delegado exigia que obtivéssemos rapidamente uma confissão ou umainformação, tínhamos que apertar o cara ainda mais… levávamos o indivíduo vendado e semroupa lá pra praia do Cassino, na madrugada. Daí amarrávamos as mãos e os pés dele com umacorda e entrávamos com ele no mar. Afogávamos o cara… contávamos a passagem de seis ousete ondas e depois retirávamos ele da água. Repetíamos isso várias vezes, até quase ele nãoaguentar mais. Se mesmo depois disso ele não falasse nada, nós eletrocutávamos ele com osfios ligados no dínamo [do motor] do Opala. Isso sempre funcionava[...]
Ciência e violência
Na terra de Golbery, o terror vinha do mar. Em 28 de março de 1964, três dias antes do golpe, o NhiCanopus (H22), um navio hidrográfico da Marinha de 1.800 toneladas e 78 metros de comprimento, concluiu seu trabalho científico de 30 meses para o levantamento da costa sul brasileiradesde Torres até Chuí. Missão cumprida, tomou o caminho de Rio Grande, onde ancorou ao largo do porto. Era comandado pelo capitão-de-fragata Maximiano da Fonseca, que na década de 80 seria colega de ministério de Golbery, como almirante e ministro da Marinha do Governo Figueiredo. Levava a bordo 116 tripulantes, um helicóptero e 14 cientistas. Mas, naqueles dias agitados dos idos de março, o barco abrigou uma carga inesperada: presos políticos.
Transformado em navio-prisão, o Canopus de Maximiano virou o cativeiro do prefeito cassado Farydo Salomão, ali submetido a torturas por ser amigo de Brizola e Jango. A violência é denunciada no livro Centenário do Colégio Lemos Júnior,escrito pelo jornalista Willy Cesar, riograndino como Golbery e que hoje defende o preito ao general. Outro depoimento, ainda mais forte, é do ex-capitão da Brigada Militar Athaídes Rodrigues, vereador e aliado do prefeito. No dia 7 de abril de 1964, 50 homens cercaram sua casa e o levaram preso, ainda de pijama, num jipe que rodou pela cidade até chegar à Capitania dos Portos. Dali, o vereador trocou o jipe por uma lancha e foi transportado à prisão flutuante do Canopus, onde se juntou a vários ferroviários detidos, incluindo o presidente do sindicato, Miguel Gomes.
Incorporado à Marinha em 1958, seis anos antes do golpe, o Canopus sobreviveu ao regime, aposentando-se doze anos após a queda da ditadura, em 1997. Nesse período, passou 3.342 dias no mar e navegou mais de um milhão de quilômetros, o suficiente para 26 voltas ao mundo.  A longa, impecável ficha funcional do Canopus ficou manchada, contudo, pelo desvio de rota ética que o imobilizou no porto de Rio Grande, abandonando por uns tempos a ciência das águas para lançar âncora na violência das mágoas políticas.
O navio-prisão na terra de Golbery era um resumo preciso do país-presídio a que Golbery e sua conspiração reduziram a terra dos brasileiros. O cativeiro temporário do Canopus em Rio Grande não era uma exclusividade do sul, mas uma fatalidade que se reproduziaem outraságuas, em outras terras. No maior porto do país, Santos, no litoral paulista, estava fundeado o caso mais notório de navio-prisão do país, o Raul Soares. Era um velho transatlântico alemão construído em 1900, comprado pelo Lloyd Brasileiro em 1925 e transformado em navio de carga e passageiro para a rota Santos-Manaus.
Faca para o bife
Quase duas vezes maior que o Canopus, com 125 metros de comprimento, o Raul Soares tinha 110 tripulantes e acomodação para 580 passageiros. Os 80 da primeira classe tinham cabine reservada, salão de jantar e orquestra a bordo com pista de dança. Os outros 500 se acomodavam em redes e cobertas nos quatro porões, e comiam ali mesmo, disputando espaço com a carga — homens na proa, mulheres na popa. No espaço de dez anos, o Raul Soaresnavegou ao sabor das marés da história: serviu de prisão para os comunistas da fracassada rebelião de 1935 e trouxe para casa em 1945 os pracinhas da FEB que, aliados aos comunistas da União Soviética, derrotaram o Eixo nazifascista.
Em 24 de abril de 1964, o navio lúgubre de casco negro e uma enorme chaminé fumegante foi rebocado pela nova ordem militar até um banco de areia na ilha do Barnabé, em Santos. Cinco dias depois recebeu ali sua primeira leva de passageiros compulsórios: 40 sargentos do Exército que se opuseram ao golpe. Outros mais — militares e civis, sindicalistas e suspeitos em geral — chegariam depois, num total de quase 500 presos políticos, todos sem processo legal, sem direito a cabine reservada, nem orquestra, nem pista de dança. Ousaram desafiar a partitura desafinada da ditadura e foram jogados como carga nos seus porões infectos.
Raul Soares tinha três calabouços, batizados pelos presos com nomes de boates famosas da época. O ‘El Morocco’, um salão metálico sem janelas, ventilação ou luz ao lado da caldeira, tinha uma atmosfera irrespirável de mais de 50 graus. O ‘Night and Day’, colado à geladeira, era uma sala menor onde os presos ficavam com água gelada na altura do joelho. O ‘Casablanca’, talvez o pior deles, era o depósito de fezes, onde a elas se misturavam os presos que precisavam ter a resistência quebrada, pela humilhação ou pelo mau cheiro. Este era o fedor institucional e jurídico emanado pela desordem militar manipulada no caldeirão malcheiroso do vovô Golbery.
Os detalhes escabrosos dessa história foram publicados em 1979 pelo repórter Mauri Alexandrino no jornal Preto no Branco, da Cooperativa dos Jornalistas de Santos. A desordem gerada pela prepotência da nova ordem foi percebida no dia em que 16 presos receberam uma boa notícia: haviam recebido habeas-corpus do juiz da 2ª Vara Criminal de Santos, Antônio Granda. À noite, aliviados, embarcaram na lancha e deixaram para trás aquele inferno. Foram direto para a sala do capitão dos Portos de São Paulo, Júlio de Sá Bierrenbach, encarregado dos inquéritos policiais na área sindical e política. O capitão chamou a imprensa, autorizou fotos, dispensou os jornalistas e, a sós com os presos, avisou:
Quero comunicar que vocês estão soltos. Agora que estão em liberdade, estou dando nova voz de prisão. Vocês saíram do processo da Aeronáutica, mas ainda não enfrentaram o da Marinha. Estou abrindo novo inquérito.
Os soldados reconduziram os presos para a lancha que os devolveu ao inferno. Muitos deles choravam, afogados num sentimento que mesclava tristeza e ódio. Jornalistassó tinham acesso ao Raul Soares como prisioneiros ou pelo filtro rigoroso do servilismo. Certo dia, dois jornalistas da Gazeta de Santos, escolhidos a dedo pelos militares, foram convidados a visitar a prisão flutuante. Elogiaram muito os comandantes pelas “ótimas condições carcerárias” e, na edição do dia seguinte do jornal, lembraram-se de uma única queixa dos prisioneiros: “Não existiam facas para cortar os bifes”, anotaram.
Caneta e metralhadora
Um jornalista subiu a bordo a contragosto: Nelson Gatto, repórter policial dos Diários Associados, penouali 43 dias encarcerado. Sobreviveu para contar seu martírio em 1965 num livro — Navio Presídio — que ninguém leu. Foi apreendido pelo DOPS antes de alcançar as livrarias. A Justiça mandou liberar, a Aeronáutica mandou apreender de novo. No Superior Tribunal Militar (STM), Gatto ganhou por 10 a 0, com voto do ministro Olympio Mourão Filho, o general de Juiz de Fora que botou os tanques na rua em 31 de março.
O movimento militar desfechado em nome da santa hierarquia se convertera, naqueles dias agitados, num constrangedor foco de subversão: os oficiais-generais da suprema corte militar do país mandaram liberar o livro, um reles oficial da Aeronáutica fez exatamente o contrário. O coronel-aviador Francisco Renato de Melo invadiu a gráfica, recolheu toda a edição e a jogou no mar. Escapou um único exemplar. O coronel da Aeronáutica justificou assim a truculência: “Os juízes têm canetas, nós temos metralhadoras”. Em 1967, cumprindo a maldição do capitão Bierrenbach, Gatto foi preso novamente para responder sobre o livro que nunca circulou.
Os defensores de Golbery, sem a ingenuidade do neto, lembram sempre o seu papel na distensão e na abertura do regime executadas pelos dois generais – Ernesto Geisel e João Figueiredo — que lhe deram o longo reinado de sete anos como poderoso ministro da Casa Civil, entre 1974 e 1981. É verdade. No entanto, indulgentes, esquecem-se de dizer que Golbery estava também na outra ponta do processo político, fechando o ciclo democrático em 1964 e inaugurando uma ditadura que sobreviveria 21 anos.
A diástole que descontraía o sistema, segundo seu cardíaco pensamento político, foiantecedida pela contração da sístole.  O general que comandou a sístole de 1964 não conseguiu pilotar a diástole de 1984, que acelerou com a hipertensão popular das multidões nas praças e avenidas das ‘Diretas-Já’ e terminou com o surto de Tancredo Neves em pleno Colégio Eleitoral. Os amigos não lembram, e o neto não diz, mas é sempre bom repetir que o candidato de vovô Golbery no colégio era Paulo Maluf, confirmando sua teimosa vocação para estar sempre do lado oposto aos interesses populares.
Príncipes do bruxo
O teórico da ‘doutrina da segurança nacional’ instaurou, por ardis, aparatos e artimanhas, uma rotina de insegurança pessoal que sacramentou o medo e a delação num país intimidado pela repressão e assustado pela síndrome da intriga, do grampo, da denúncia.Essa inclinação para o mal, como já deve ter suspeitado o jovem Golbery Neto, reforça a tese de que o avô tinha forte inclinação por dois príncipes – o de Maquiavel e o de Lampedusa.
O ardiloso general tinha a consciência da fortuna, a idéia romana de sorte, definida pelo gênio florentino como algo inevitável, que pode levar alguém ao poder ou tirá-lo de lá. Como se sabe, uma obsessão muito golberyana. E, como o autor de O Leopardo, o generaltentava “tudo mudar para que tudo ficasse como está”. A desastrada campanha de Maluf no Colégio Eleitoral mostra que Golbery tentava ‘mudar para preservar’, dando uma sobrevida civil ao regime militar que definhou como a aristocracia siciliana do Século 19 desenhada por Lampedusa.
Maluf, na cabeça de Golbery, era o meio que justificava — ou adiava — o fim.
Golbery Neto provavelmente era nascido em 1977, quando o vovô Golbery cometeu sua derradeira bruxaria bem sucedida, o “Pacote de Abril”. Como de hábito, contra o povo. Sob o comando do sacerdote Geisel, o feiticeiro e meia dúzia de áulicos cozinharam uma sulfúrica emenda constitucional e seis decretos leis que, em resumo, dissolviam a vontade popular, um estorvo permanente aos planos de Golbery. Fecharam o Congresso para ruminar em paz seus feitiços, cancelaram a eleição direta de 1978 para governadores, inventaram um monstrengo sem voto (o senador-biônico), ampliaram para seis anos o mandato do sucessor de Geisel e aumentaram o peso de Estados menos populosos e politizados no Congresso Nacional.
Era Golbery, de novo, num surto de Lampedusa.
Mito na granja
Dois anos depois vovô Golbery recrudesceu, cada vez mais assustado com o crescimento do MDB, que pela força do voto emparedava a ARENA, a sigla da ditadura. Era preciso mudar o quadro partidário, implodindo a frente oposicionista, para que tudo ficasse como estava.
A ARENA virou PDS (o povo não esquece) e o MDB virou um caco, rachado entre cinco legendas: o PMDB de Ulysses, o PTB de Ivete Vargas, o PP de Tancredo Neves, o PDT de Leonel Brizola e o PT de Lula. A fortuna do mago florentino sorria para o bruxo riograndino. O marido de Ivete, Paulo Martins, trabalhava com Golbery no Gabinete Civil.
Ivete, que tinha o apoio de Golbery para arrebatar o PTB das mãos de Brizola, foi chamada em 1979 à Granja do Ipê, residência do general em Brasília, para ouvir este satânico raciocínio do feiticeiro:
— Precisamos trazer o Brizola de volta para o Brasil, porque ele está se tornando um mito muito forte fora do país. É melhor que ele volte e dispute eleição, porque assim perderá prestígio político.
O ex-deputado federal Sinval Boaventura, um radical arenista mineiro,foi lá na granja conferir a ideia com Golbery. O general ampliou sua tese, apostando num nome:
—A estratégia é estimular a imprensa para projetar Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, um grande líder metalúrgico de São Paulo, uma liderança inteligente e expressiva. Ele precisa ser preparado para ser o anti-Brizola.
Todo esse prontuário de Golbery passou em branco pela grande imprensa, que não abriu espaço para a atrevida homenagem ensaiada em Rio Grande. Um historiador da terra, Chico Cougo, 24 anos, portantobem mais jovem que o alienado prefeito de sua cidade, nasceu dois anos após a queda da ditadura. Nem por isso deixa de abastecer seu blog para emitir seu juízo ferino sobre o conterrâneo general, alinhando textos inteligentes, devastadores numa série imperdível sobre “Golbery e a cidade surreal”.
Outra exceção à regra do silêncio é o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, que acaba de lançar o livro Vozes da Legalidade, tem programa na rádio Guaíba e coluna no Correio do Povo,onde provocou: “Rio Grande quer homenagear o ‘Rasputin’ nacional. Por que não uma estátua para os ministros militares que tentaram dar o golpe em 1961?…O mais incrível é que [o prefeito] Fábio Branco pertence ao PMDB, que se orgulha de ter combatido a ditadura…Resta uma hipótese radical: Branco quer expor Golbery às pombas da praça Tamandaré…”
A maior corrupção
Duas vozes expressivas da imprensa gaúcha discordam. Lasier Martins, âncora da RBS TV, o principal grupo de comunicação do sul, acha que a homenagem é parte da democracia. Indaga: “É tão difícil assim entender isso?” É, é muito difícil entender, considerando que nenhuma democracia deve exaltar quem conspirou contra a democracia.
O experiente jornalista Érico Valduga, dono do Periscópio, um respeitado blog político do sul, acha que a homenagem “é uma questão local legítima” em que “a sociedade de Rio Grande preferiu ver no conterrâneo o governante que beneficiou a cidade com obras públicas importantes”.
Há dois graves problemas nesse raciocínio. A sociedade riograndina, pelo que se vê na pesquisa do jornal local, vê mais as malfeitorias nacionais do que as benfeitorias municipais, condenando comoilegítima a homenagem por maioria de quase 60%. A proposta ainda foi aprovada por menos da metade dos vereadores da Câmara, apenas seis em 13 representantes.
Valduga arrisca uma tese mais ousada para condenar os que se opõem ao louvor a Golbery: “É uma irresponsabilidade diversionista, que contribuirá para desfocar as lutas contra a corrupção”. O jornalista esquece que não há maior exemplo de corrupção do que um golpe que fecha o Parlamento, castra a vontade popular pelo veto ao voto, cassa mandatos políticos, censura, prende, tortura e mata, impondo ao país uma treva de 21 anos, consagrando a impunidade e estimulando a corrupção. Foi o louvado Golbery quem pensou esta irresponsabilidade que nos privou da democracia por duas décadas.
Nada mais diversionista.
O que espanta, de fato, não é a voz condescendente de alguns jornalistas, mas a afonia das principais lideranças do PMDB gaúcho, herdeiro do mais aguerrido e mais atingido MDB do país, que lutou e sangrou contra a ditadura gestada pelo general Golbery. O autor da proposta indecente é vereador do PMDB de Rio Grande, Renato Albuquerque, que viu seu PLV (projeto de lei de vereador) nº 93/2009 aprovado pela minoria da casa na sessão de 21 de dezembro de 2009. Cinco dos 13 vereadores estavam ausentes, só seis (menos da metade) aprovaram, contra dois votos. O prefeito Fábio Branco, também do PMDB, apôs sua assinatura na lei nº 6.835 exatos dez dias depois, em 31 de dezembro, quando a cidade e o país, desatentos, só estão preocupados com o reveillon da madrugada. Cobrado pela homenagem ao general, o prefeito que veio ao mundo em 1972 evocou o calendário para se eximir de um juízo sobre a ditadura de 1964: “Eu não era nascido…”
Tributo à treva
Não se conhece nenhum juízo, qualquer manifestação pública ou privada das principais lideranças, dos nomes históricos do PMDB gaúcho —todos nascidos e crescidos bem antes das malfeitorias antidemocráticas de Golbery.O Congresso Nacional, três vezes fechado e pesadamente mutilado pelo golpe engendrado pelo general desde os idos de 1961, recebeu a decisão de Rio Grande com um atordoante silêncio. À esquerda e à direita, nenhum dos 513 deputados, nenhum dos 81 senadores emitiu uma palavra, um só discurso, um mísero aparte, a favor ou contra.
Do PMDB nacional não se podia esperar nada de mais. Afinal, o MDB velho de guerra que um dia foi comandado por gente como Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Alencar Furtado, Itamar Franco, Mário Covas, José Richa e Franco Montoro hoje é um PMDB rebaixadoagente como José Sarney (o último presidente do PDS, que o povo não esquece), Michel Temer, Renan Calheiros, Romero Jucá, Jáder Barbalho, Henrique Eduardo Alves, Newton Cardoso, por aí.
O alheamento do Parlamento a uma questão moralmente tão grave mostra o grau de desmemória a que se relegou a política brasileira, talvez o derradeiro legado do general Golbery para um país que não preza sua história e não consegue nem identificar os malfeitores da democracia. O desastrado, debochado ensaio de louvor a Golbery do Couto e Silva no sul coincide com a criação de uma Comissão da Verdade em Brasília que, em tese, irá dissecar a obra mais monstruosa do general: a ditadura de 21 anos. Um país que se recusa a discutir um tributo infeliz ao mentor da mais longa escuridão da República pode estar, na prática, erigindo um mausoléu da decência, da justiça, da consciência política.
Golbery Neto, antes de se ofender com um simples artigo baseado na história, devia ler e estudar um pouco mais para entender a real dimensão de seu avô, um contumaz cérebro do arbítrio que deve ser conhecido, debatido elembrado pelos brasileiros — jamais exaltado.
Afinal, se a omissão paralisa até a sociedade politicamente organizada, essa sanção moral ficará por conta dos pombos da praça Tamandaré.
Luiz Cláudio Cunha é jornalista (cunha.luizclaudio@gmail.com)