25.8.10

O Brasil na maré global

Crescimento ou retração econômica segue a tendência do resto do mundo

Depois de anos "descolado" do mundo, o Brasil parece ter entrado numa fase em que acompanhará mais de perto o desempenho da economia global. De 2008, início da fase global, para cá, a chamada correlação entre o crescimento do PIB brasileiro e do planeta aumentou significativamente.

Ainda que o movimento tenha diferentes intensidades, a direção é a mesma - no ano passado, por exemplo, o PIB global caiu 0,6% e o brasileiro, 0,2%. Em síntese, significa dizer que, quando o mundo avança, o Brasil também avança. Quando se retrai, o País também se retrai.

Essa é uma das razões que podem ter levado o Banco Central a reduzir o ritmo de alta da taxa básica de juros (Selic). Na reunião do mês passado do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa subiu de 10,25% para 10,75% ao ano. A decisão surpreendeu a maior parte dos analistas, que esperavam uma elevação da Selic para 11% ao ano.

A diferença aparentemente irrisória de 0,25 ponto porcentual provocou inúmeras especulações no mercado financeiro. Segundo uma delas, o Banco Central teria decidido pisar mais levemente no acelerador depois de autoridades brasileiras terem participado de encontros internacionais da área econômica. Nessas reuniões, o quadro pintado sobre a atividade global teria sido bem pior do que se imaginava.

LEVANTAMENTO

Especulações à parte, o fato é que, desde 2008, o desempenho da economia brasileira está mesmo muito interligado ao do resto do mundo, segundo levantamento realizado pelo economista Fausto Vieira, da Rio Bravo Investimentos. Nos anos imediatamente anteriores a 2008, o mundo quase sempre crescia acima do Brasil.

Pouco antes do estouro da crise global, o desempenho começa a ficar mais similar. Quando a atividade no mundo praticamente para, após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em setembro daquele ano, as linhas praticamente grudam. Ou seja, o PlB brasileiro despenca junto com o internacional.

FUTURO INCERTO

A grande dúvida dos economistas consultados, inclusive do próprio Vieira, é se essa correlação tão forte vai manter-se nos próximos anos. Por ora, não há trabalhos suficientemente profundos que permitam afirmar com segurança se a resposta é sim ou não.

O que existe são hipóteses. Vieira trabalha com algumas. A primeira delas está relacionada à presença cada vez maior de multinacionais estrangeiras aqui e de multinacionais brasileiras lá fora. A segunda diz respeito à formação de expectativas. Com a informação no mundo viajando na velocidade da luz, pessoas e empresas se ajustam mais rapidamente às mudanças havidas no cenário econômico.

O economista Fernando Rocha, da gestora de recursos JGP, avalia que a correlação continuará relevante. Ele argumenta que a economia brasileira passou a ser mais "normal" após os ajustes sofridos nos últimos anos. Com isso, abriu-se espaço para que a taxa de juros acompanhasse a tendência global.

Rocha lembra que, pela primeira vez em décadas, o Brasil conseguiu reduzir os juros em meio a uma grave crise. Em janeiro de 2009, o Banco Central iniciou um processo de queda da Selic que levou a taxa ao menor nível da história. "Até então, sempre que havia crise, o Brasil elevava o juro." Se o juro caminha como no resto do mundo, afirma, é natural que o crescimento do Produto Interno Bruto do País também siga na mesma direção.

Estrangeiros estão otimistas

A percepção dos estrangeiros sobre o crescimento da economia brasileira para os próximos 12 meses é otimista. De acordo com o estudo Monitor da Percepção Internacional do Brasil, divulgado na semana passada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea), 29% dos agentes internacionais analisados acreditam que o País vai crescer mais de 6% nesse período. Outros 59% acreditam que o PIB deve variar entre 3,6% e 6%.

"(Isso) significa que o Brasil é um destino interessante para os investimentos, ainda mais em um momento de crise. Nesse momento, o Brasil, assim como outras economias emergentes, se destaca porque é um país que está crescendo, a população está consumindo mais, a desigualdade e a pobreza estão diminuindo", afirmou André Pineli, técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos Internacionais do Ipea.

Ele informou que 170 entidades internacionais participaram do levantamento, entre elas representações de governo (embaixadas e consulados), câmaras de comércio, organizações multilaterais e empresas com controle estrangeiro e que tenham atuação no Brasil. As entidades receberam um questionário com 15 perguntas sobre economia, política-institucional e sociedade. Cada pergunta foi analisada numa escala que varia entre -100 (muito pessimista) e +100 (otimista).

Na área de economia, a percepção dos estrangeiros sobre o Brasil foi classificada como moderadamente otimista, atingindo +24 pontos. No quesito sobre política, governo e instituições, a percepção foi a mesma, com +30 pontos. Já a área social foi encarada pelos estrangeiros como neutra (+7 pontos).

SAIBA +

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, informou que a instituição leva em conta todos os dados conhecidos até data da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para tomar a decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic.

O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) é o depositário dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central e processa a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia. O sistema processa também a liquidação das operações definitivas e compromissadas registradas em seu ambiente. (Jornal do Brasil.)

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