José Serra e o PIG vêm dizendo que o portador da autorização falsa para entrega das cópias das declarações do imposto de renda da filha do tucano seria filiado ao PT – o que não é verdade. Parece a eleição de 1989, quando a polícia e a mídia usaram o seqüestro do empresário Abílio Diniz para impedir a eleição de Lula, associando falsamente os seqüestradores ao PT. A história se repete, agora como farsa.
No momento em que escrevo, a propaganda o candidato tucano à presidência da República, José Serra, na televisão acaba de usar manchetes de jornais do PIG para afirmar que o portador do documento falso usado para supostamente violar o sigilo fiscal da filha do tucano seria filiado ao PT. Antonio Carlos Atella Ferreira, contudo não é filiado ao Partido dos Trabalhadores, como mais tarde o próprio PIG teve que admitir.
(…) ele nunca participou de qualquer órgão de direção partidária, nem de qualquer evento, seminário, reunião ou atividade, não tendo nunca cumprido quaisquer obrigações estatutárias, nem mesmo sequer comparecido para votar em quaisquer dos nossos processos eleitorais internos.
(Nota do PT paulista sobre a suposta filiação de Antonio Carlos Atella Ferreira ao partido)
Segundo a versão atual divulgada pela Folha de São Paulo, o falso “procurador” teria solicitado em 2003 sua filiação ao PT, mas um erro de grafia o impediu de constar da lista de filiados no TRE e nos bancos de dados petistas. É bom esclarecer que ele nunca buscou corrigir esse erro, o que, junto com a completa falta de participação na vida partidária, indica que não tinha mesmo vínculo com o petismo.
Infelizmente, no Brasil de hoje em que basta assinar um papel para se filiar a um partido, muitas vezes pessoas sem qualquer afinidade ideológica ou vontade de atuar acabam por assinar fichas de filiação (induzidos por terceiros ou por vontade própria), mas acabam não atuando nos partidos.
Essa situação lembra mesmo, como diz Serra, a campanha de 1989. Mas, ao contrário do que ele insinua, quem está no lugar de Lula é Dilma, vítima de mais uma armação da imprensa e da elite e sua representação política – o PSDB.
Durante aquele período eleitoral, um grupo de chilenos militantes do grupo guerrilheiro MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária, o qual lutava contra a ditadura de Pinochet, que ainda não havia terminado), com o auxílio de um brasileiro, Raimundo Rosélio da Costa Freire, militante da organização que daria origem ao PSTU, e que até então havia participado da luta de libertação na América Central, seqüestrou o empresário Abílio Diniz, dono do Grupo Pão de Açúcar. O seqüestro fracassou, e os militantes foram presos. Porém, para usar todo o peso do anticomunismo que sobrevivera à ditadura militar brasileira (estávamos na primeira eleição para presidente após a redemocratização), a polícia colocou material de campanha de Lula junto ao arsenal utilizado pelos seqüestradores – que em momento algum se envolveram na campanha eleitoral, queriam unicamente financiar a luta na Nicarágua e no Chile. Assim descreve Raimundo Rosélio o desfecho do seqüestro:
No dia 16 de dezembro, um dia antes [do segundo turno] das eleições, sábado, a polícia paulista, mediante o uso da tortura, conseguiu chegar até a residência onde o Empresário se encontrava seqüestrado. […] Coube a Humberto, o líder do grupo, a responsabilidade de conduzir os policiais até o cativeiro, no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo.
No entanto, ao chegar ao cativeiro, às 5 horas da manhã, os policiais foram emboscados pelo grupo restante que estava dentro da casa […], que conseguiu resgatar Humberto e resistir à ação policial, até o dia seguinte, quando se renderam […]
Um dos integrantes, responsável pelas negociações do pagamento do resgate e da guarda do Abílio Diniz, recorda que, ao resgatar o companheiro ferido em poder dos policiais, de imediato, percebeu a manipulação das camisetas: “recorda Freire, que só teve um momento de pânico, quando Humberto Paz voltou ao cativeiro, após ser torturado, vestindo uma camisa do PT. ‘Era véspera da eleição presidencial. Quando vi Humberto ensangüentado, com a camisa do PT, tentei rasgá-la, ao ver que estávamos cercados pela polícia’, lembra Freire, que parou de tentar tirar a camisa do companheiro ao ver que ele estava algemado e sentia dores.
Essa camisa foi retirada do corpo de Humberto, horas depois, e queimada no banheiro da casa. Nessa residência não havia nenhum material do PT. Posteriormente, a polícia colocou material da campanha de Lula nas casas e apartamentos dos seqüestradores.
No intervalo de 36 horas que durou o cerco do cativeiro, coincidentemente, todas as emissoras de televisão transmitiam ao vivo e dramatizavam as longas e exaustivas negociações […]
Os media do País, estrategicamente posicionados frente à residência usada como cativeiro, exploraram em suas reportagens uma série de boatos, estabelecendo um vínculo entre o PT e o comando cercado, além de divulgar, repetidas vezes, as fotos fornecidas pelos policiais, nas quais os primeiros seqüestradores presos, visivelmente torturados, apresentavam-se vestidos com as camisetas do candidato Lula, impecavelmente limpas, contrastando com a aparência física em que se encontravam, “e lá estava a foto do seqüestrador chileno, Ségio Urtubia, todo ensangüentado, torturado, amassado, em estado de total descalabro, um palhaço lúgubre com aquela postura, e a camisa do PT limpinha, quer dizer, cobriram ele de porradas e botaram a camiseta.”
(FREIRE, Raimundo Rosélio da Costa. Pão de Fel. Fortaleza: Premius, 2002.)
Ou seja: pegaram pessoas que cometeram um crime sem nenhuma relação com a campanha de Lula, botaram camisetas do PT nessas pessoas, e saíram dizendo que o seqüestro tinha relação com o metalúrgico que queria ser presidente do Brasil. Hoje, pegam um presumido falsário, botam nele uma filiação inexistente ao PT, e dizem que o crime que ele cometeu tem relação com aquela mulher que será eleita presidente pelo povo brasileiro. A história se repete, como diz Marx, agora como farsa.
Por Leandro Arndt do: Notícias e Análises
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