No dia em que EUA e UE pedem saída de Assad, Brasil e Rússia criticam interferência internacional |
O Brasil voltou a pedir nesta quinta-feira, desta vez no Conselho de Segurança, uma solução negociada para a crise na Síria. A postura foi reafirmada após um relatório da ONU indicar “violações generalizadas e sistemáticas dos direitos humanos” no país árabe.
A postura brasileira destoa da adotada pelos Estados Unidos e pela União Europeia, que chegaram a pedir o afastamento do presidente sírio, Bashar al-Assad. Ativistas de direitos humanos denunciam a morte de milhares de ativistas na dura repressão do governo a protestos que pedem reformas democráticas.
O representante da Rússia, Vitaly Churkin, posicionou-se ao lado do Brasil e disse que se trata de um “processo político interno” e que cabe aos sírios resolvê-lo, sem interferência internacional.A representante interina do Brasil na ONU, Regina Dunlop, condenou a violência no país árabe, mas defendeu um “processo político conduzido pelos sírios com a participação de todas as partes”, inclusive a oposição.
Para a representante brasileira, “ainda há o que fazer para que esses processo político aconteça”. “Cabe ao povo (sírio) decidir quem será o dirigente do país”, disse. Dunlop também disse se tratar de “um processo interno”, dizendo que a “soberania não pode vir de fora para dentro”.
Na última semana, Assad recebeu diplomatas do Ibas (fórum formado por Brasil, África do Sul e Índia), em Damasco. A posição conciliatória dos três países emergentes (assim como a da Rússia) difere do tom crítico das nações desenvolvidas integrantes do conselho.
Sanções
A Grã-Bretanha, membro permanente do Conselho de Segurança, convidou os membros europeus do conselho e os representantes do Ibas para uma reunião informal nesta sexta-feira.
A diplomata brasileira confirmou a expectativa de que um projeto de sanções contra o regime sírio possa ser discutido.
“Não nos surpreenderia se um projeto de resolução com sanções nos fosse mostrado”, disse Dunlop.
O chefe de gabinete da missão francesa, Brieuc Pont, disse esperar que as delegações que se opõem a eventuais sanções “reconsiderem suas posições”.
“O que ouvimos hoje é espantoso e há uma necessidade particular de todas as democracias se unirem para colocar um fim a essas atrocidades”, disse Pont.
A sub-secretária-geral para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, anunciou o envio de uma missão da ONU já neste sábado, 20 de agosto, à Síria, liderada pelo diplomata Rashid Khalikov.
Violência
O relatório apresentando pela Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navy Pillay, indicou a morte de pelo menos 1,9 mil pessoas, inclusive crianças.
Segundo os investigadores da ONU, marcas de ferimentos nos corpos das vítimas indica uma política de "atirar para matar". A violência usada pelo governo pode ser classificada de crimes contra a humanidade, de acordo com o documento.
O governo sírio reconheceu o número de 1,9 mil vítimas, mas inclui também integrantes das forças de segurança mortos por manifestantes.
O relatório diz ainda que as forças sírias usaram com regularidade três métodos para matar civis: soldados no terreno, atiradores nos telhados e bombardeios aéreos.
Foram descritas também execuções sumárias, o uso de frequentes batidas em hospitais para matar manifestantes feridos, além de relatos de tortura e detenções arbitrárias.
Soldados ouvidos pelos investigadores dizem ter recebido ordens de usar munição real contra manifestantes e os que se recusavam, eram mortos.
Na quarta-feira, Assad disse à ONU que as operações contra os manifestantes haviam sido interrompidas.
No entanto, a afirmação foi negada por ativistas defensores dos direitos humanos, que dizem que a violência prossegue.
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