21.9.11

Na ONU, Dilma defende Brasil no Conselho de Segurança e Palestina


Em sua estréia - e das mulheres - na abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, Dilma Rousseff cobra reforma do Conselho de Segurança, com assento permanente ao Brasil, para recuperar 'legimitidade'. Em discurso de 24 minutos em que foi aplaudida quatro vezes, também defende 'ingresso pleno' da Palestina na ONU e 'crescimento' como opção contra crise global.
André Barrocal

Na primeira vez que uma mulher abriu a Assembléia Geral das Nações Unidas em 66 anos, a presidenta Dilma Rousseff defendeu, nesta quarta-feira (21), que o Brasil tenha assento permanente no Conselho de Segurança; o reconhecimento formal da Palestina, com o ingresso dela na ONU; e que os países enfrentem a crise econômica global com crescimento e, não, recessão.

Para Dilma, é urgente e não dá para “protelar mais” a reforma do Conselho de Segurança, debate que se arrasta há 18 anos. A legitimidade do Conselho, criado numa geopolítica que ficou para trás, depende desta reforma, disse a presidenta, numa das quatro vezes em que arrancou aplausos da Assembléia durante o discurso de 24 minutos.

“O mundo precisa de um Conselho de Segurança que venha a refletir a realidade contemporânea, que incorpore novos membros permanentes e não permanentes, em especial, representantes dos países em desenvolvimento”, disse Dilma. “O Brasil está pronto para assumir suas responsabilidades como membro permanente.”

Segundo a presidenta, um Conselho mais legítimo seria mais eficiente para coordenar respostas a situações surgidas, por exemplo, na “Primavera Árabe”, com manifestações a reivindicar democracia e liberdade numa série de países. O Brasil, disse Dilma, se solidariza com o “ideal de liberdade” e repudia “com veemência a repressão brutal” que vitimou civis nestes movimentos.

Salientando o passado de perseguida e torturada política, Dilma condenou “autoritarismo, xenofobia, miséria, pena capital e discriminação” como “algozes dos direitos humanos” - presentes em todos os países, é preciso reconhecer, disse ela.

Neste momento, ela saudou o país caçula da ONU, o Sudão do Sul, que debutou na Assembléia Geral. E lamentou não poder dar uma segunda boas vindas. Para Dilma, o sonho de soberania é um direito “legítimo do povo palestino” que, se realizado, ajudaria a promover a paz no Oriente Médio. “Acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título”, afirmou Dilma, outra vez inspirando palmas.

Mulheres e crise econômica

A primeira salva de palmas ocorreu logo no início do discurso, quando a presidenta referiu-se ao fato de ser a primeira mulher a abrir a Assembléia. Para ela, quem se exprimia ali, naquele momento, era a “voz da democracia e da igualdade”, que se amplia no mundo.

Depois de dizer-se orgulhosa e de prever um “século das mulheres”, Dilma entrou direto no assunto que mais agita a comunidade internacional hoje, por atingir diretamente países ricos: a crise econômica global. Foi o tema que mais ocupou espaço no discurso da brasileira.

A presidenta classificou o momento atual de “extremamente delicado”. Disse que não é hora de procurar culpados pela crise, até porque já são bastante conhecidos. Criticou a falta de “recursos políticos”, em especial nos países ricos, para resolver os problemas. Reclamou do protecionismo como opção. Lamentou os efeitos sobre o desemprego, hoje superior a 200 milhões no mundo.

Segundo Dilma, os países em desenvolvimento podem ajudar a atravessar a crise, mas é preciso que fóruns globais como a ONU, o G20 (grupo das maiores economias do mundo), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) conversem e negociem mais. É necessário, disse, regular mais o setor financeiro. E, sobretudo, preferir a arma do crescimento à da estagnação.

“A solução do problema de dívida [dos governos] deve ser combinada com crescimento econômico. Há sinais evidentes de que os ricos estão no limiar da recessão”, afirmou Dilma, para quem “a prioridade mundial” deve ser resolver a questão fiscal daqueles países – sem crescer e gerar receita, seria mais difícil.

Mas Dilma não deixou de dizer, mais uma vez, que o Brasil tem sido menos afetado pela crise, embora “a capacidade de resistência [do país] não é ilimitada”. Ela vendeu ações do governo e a possibilidade que o Brasil tem hoje de usar o mercado interno para sair-se bem, em meio a turbulências.

Ao encerrar o discurso, a presidenta voltou ao tema da participação feminina na política. Saudou o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, por estimular esse tipo de debate, ao coordenar a criação da ONU Mulher, referência que rendeu a Dilma sua quarta salva de palmas.




Nenhum comentário: