16.7.11

GERHARD GRUBE: TORTURA E TERROR

A finalidade da tortura é amedrontar, aterrorizar aquele que está sendo torturado.

E com isso ceda em qualquer propósito dos torturadores. Seja revelar segredos, seja confessar coisas que fez. E coisas que não fez.

A tortura sempre dá resultado, desde que o objetivo não seja a verdade. Depois de algumas horas qualquer um confessa qualquer coisa. Excelente para conseguir um bode expiatório. Muito menos quando se deseja esclarecer fatos.

Este é o argumento utilizado para justificar a tortura: Obter informações.

Que freqüentemente não têm nenhum valor. Mas se existir alguma coisa, isto não pode 
ser ocultado dos torturadores. Nunca.

Torturar é fácil e barato. Os resultados são obtidos rapidamente. Economiza muito em demoradas investigações. E sempre dá resultado, quando a finalidade é obter um culpado. Nem que não seja.

O filme de 1966 “A Batalha de Argel” (“La Battaglia di Algeri”, “The Battle of Algiers”), mostra que de certo modo a tortura é uma necessidade.

Foi no início da luta pela libertação da Argélia da dominação exercida pela França, uns 50 anos atrás. Concretizada alguns anos mais tarde. Os franceses responderam com tortura ao movimento de libertação.

Os revolucionários estavam estruturados em pirâmide, de modo que cada membro conhecia apenas três elementos da organização: Aquele que o convidou e mais dois que ele mesmo convidou para participar.

Se um deles fosse aprisionado, vinte e quatro horas seriam suficientes para que os outros três desaparecessem e não pudessem mais ser capturados pelo exército francês. A estrutura da organização ficava preservada. Depois de 24 horas o prisioneiro poderia confessar qualquer coisa. Já não era mais prejudicial ao movimento de libertação.

Os franceses então torturavam o prisioneiro, para obter respostas rapidamente. Obtinham o que queriam. E também o que não queriam, se o prisioneiro fosse inocente, denunciando parentes e amigos, só para livrar-se da tortura.

Assim, explica-se a tortura. Muito mais eficiente que humanos (e demorados) interrogatórios.

Mas objetivo maior da tortura, muito mais importante ainda, é aterrorizar os demais membros da organização clandestina. Para que fiquem com medo. Para que se desmantele por si só, pelo terror que significa a possibilidade de ser torturado.

Como foi no regime militar brasileiro. Tortura pelo terror. E pelo prazer de torturar.
E certamente é o caso dos estadunidenses que mantém sob tortura, já por anos a fio, muitos “terroristas” em Guantánamo e outras prisões mundo afora. É para aterrorizar todos aqueles que pensem em se rebelar contra o regime opressivo estadunidense. É para servir de exemplo e alerta. Aterrorizar o mundo.

Pois se o objetivo fosse obter informações ou uma confissão isso seria conseguido em algumas horas, ou dias de tortura.

Por isso estes prisioneiros não são submetidos a julgamento. Um julgamento iria gerar condenação e o assunto estaria resolvido. Mas pior que isso, poderia ser provado serem inocentes. E certamente são, todos eles. Foram aprisionados arbitrariamente, sem nenhum argumento.

É um recado, para que o mundo fique sabendo, que para “inimigos” dos Estados Unidos não existe lei. Nem a internacional, nem a dos seus países de origem, nem a dos países de onde foram seqüestrados, nem a lei estadunidense.

Mas com isso ficaram com batata quente na mão. Prenderam inocentes e não podem libertá-los. Pois se antes não eram terroristas, alguns deles certamente vão ser, quando liberados.

Os estadunidenses não os querem. Não os querem também os países de onde foram seqüestrados e os seus países de origem. Ninguém quer gente que foi barbaramente torturada.

Sigilosamente os estadunidenses estão contatando países, inclusive o Brasil, para que aceitem alguns destes prisioneiros. Mas ninguém quer. Inclusive por medo de futuramente ser acusado, pelos próprios Estados Unidos, de ser um país que abriga terroristas!

Bradley Manning, o informante da Wikileaks, que mostrou ao mundo o vídeo de soldados estadunidenses matando civis iraquianos, está sendo mantido sob prisão, já há meses, sem acusação formal. Sob regime que se assemelha a tortura de Guantánamo.

Não é para que confesse, o que quer que seja. É para servir de exemplo. Para que os demais soldados estadunidenses jamais ousem fazer algo semelhante. É para que fiquem aterrorizados.

E assim vai ser com Julian Assange, da Wikileaks, quando ele for extraditado para os Estados Unidos. Será torturado. Para servir de exemplo.

Ambos podendo ser acusados de crimes cuja pena é a morte, e executados.
Terror maximizado.

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