7.8.11

Neto de Jango luta para recuperar a importância histórica do ex-presidente

via PÁGINA 64

Jango no Paraná, em 1962: inspiração para o neto l Foto: Instituto João Goulart

A trajetória do presidente João Goulart inspirou seu neto Christopher a seguir a carreira política. Candidato, sucessivamente, a vereador e a deputado estadual pelo PDT, o advogado de 34 anos ainda não conquistou um mandato parlamentar, mas segue disposto a trilhar este caminho. Para ele, o avô é fonte de inspiração, principalmente por suas propostas de amplas reformas no país.
.

.

Christopher Goulart

Christopher Goulart, que mora e trabalha em Porto Alegre – é diretor da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer – diz que as circunstâncias que levaram Jango a viver no exílio após o golpe de 64, influenciaram toda a família. “Eu me sinto fruto direto da história política do país”, afirma o jovem, que tem tripla nacionalidade: brasileira, uruguaia e inglesa. Embora, ressalta, sinta-se brasileiro.

Ele conta que a família Goulart foi viver primeiro no Uruguai, onde ficou até 73. Lá, os pais de Christopher, João Vicente Goulart e a uruguaia Stella, se conheceram. Com a situação política agravada pelo golpe no Uruguai, aumentou a perseguição aos líderes políticos exilados.

“Não podemos esquecer que João Goulart era uma referência na América Latina, por ser o primeiro líder democrático deposto naquele período”, diz. Isso acarretou, inclusive, o sequestro de João Vicente, “como forma de dar um recado”.
Assim, acrescenta, como Jango era próximo do presidente Perón, a família mudou-se do Uruguai para Buenos Aires, onde a situação política era melhor.

Isso até o golpe no país em 75. Foi um ano de muitas perseguições a lideranças, que culminou, em 76, com o sequestro e assassinato, na capital argentina, dos uruguaios Zelmar Michelini (senador) e Gutierrez Ruiz (deputado). “O impacto dessas mortes, pois eram figuras próximas a Jango, definiu o rumo de minha família”, afirma Christopher.

Além disso, o escritório do ex-presidente na capital argentina foi invadido e revirado. O ex-presidente mandou, então, os filhos João Vicente e Denise para estudar em Londres, a fim de dar-lhes mais segurança. “E foi em Londres que eu nasci, em outubro de 1976, dois meses antes da morte do meu avô, na Argentina”, declara.

“Me orgulho de ter um avô que evitou duas guerras civis”

Christopher diz que o avô chegou a visitar o neto recém-nascido em Londres. “Observando as fotos desse período, nota-se que Jango, com 57 anos, parece bem envelhecido, por conta de sua vida no exílio”, observa. A morte do ex-presidente acabou trazendo os filhos de volta. “Mas essa perda desestruturou a família. Ninguém estava preparado. Politicamente, ele não teve tempo de preparar ninguém”, acrescenta. Tanto que seu pai, João Vicente, elegeu-se deputado estadual pelo PDT/RS em 1982 e depois não concorreu mais.

.
.


Jango foi a Londres conhecer o neto
Christopher poucos meses antes de falecer
Foto: Arquivo de família
.


Hoje, João Vicente dedica-se ao Instituto João Goulart, em Brasília, do qual Christopher é diretor.

O jovem também é presidente do Memorial João Goulart, em São Borja, terra natal do ex-presidente. Christopher lidera a ação judicial pela investigação da morte de Jango. Oficialmente, o ex-presidente faleceu devido a um infarto, em sua fazenda em Corrientes, na Argentina. E atua como conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, a primeira entidade do gênero no país e que funciona em Porto Alegre.

Este ano, segundo Christopher, em que o movimento da Legalidade completa 50 anos, é importante para recuperar a importância de João Goulart.

“Enquanto Leonel Brizola permaneceu no país, militando na política, meu avô, por ter morrido no exílio, em 1976, é uma figura menos conhecida. Segmentos de direita se empenharam em jogar a figura de Jango no limbo, assim como setores da esquerda o classificam como fraco, covarde, despreparado, por não ter resistido.

A repressão da ditadura foi eficiente em obscurecer certas figuras. Mas me orgulho pelo fato de nenhum deslize moral ou ético ter sido descoberto contra Jango”, diz ele.

Além de político, João Goulart destacou-se como administrador, conta Christopher. Ele vinha de uma família de fazendeiros de São Borja e, ainda muito jovem, conseguiu multiplicar o patrimônio após a morte do pai, no período de 1940 a 45.

Comprava gado, invernava e vendia, ampliando os negócios a ponto de abrir um frigorífico. No exílio, também teve fazendas. Morreu em uma delas, a argentina Mercedes.

Ao todo, são oito os netos de João Goulart e Maria Tereza – seis filhos de João Vicente e dois de Denise. Christopher é o mais velho e o único que o ex-presidente conheceu. “A minha história de vida, eu assimilo como uma responsabilidade no sentido de resgatar Jango de todo esse processo de esquecimento”.

Uma das lutas da família é pela construção do Memorial João Goulart, em Brasília, para o qual já existe projeto pronto, do arquiteto Oscar Niemeyer. Outro fato que ele destaca é a anistia post mortem concedida a João Goulart e a Leonel Brizola, em 2008, por parte do governo brasileiro, o que significa “um pedido de desculpas por parte do Estado”.

“Me orgulho de ter um avô que evitou duas guerras civis no Brasil, em 1961 e 1964”, diz Christopher, acrescentando que João Goulart “tinha uma responsabilidade nacional, que ia além do Rio Grande do Sul. Ele pensou numa forma pacífica, democrática, de agir durante as crises. Esse era o perfil dele, com o qual me identifico, pois muitas vezes não dá para ter resultados imediatos. A responsabilidade dele em relação ao destino do país fez a sua grandeza” diz o neto.

.


Vídeos Relacionados:






Nenhum comentário: